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Libertadores 2005: A Polêmica Final Entre Athletico e São Paulo Vinte Anos Depois
Por Redação FutCAP em 31/07/2025 04:17
Vinte anos após um dos confrontos mais emblemáticos e contenciosos do futebol sul-americano, Athletico Paranaense e São Paulo se reencontram em um mata-mata da Copa do Brasil. Este novo capítulo, que terá seu primeiro embate no Morumbis e a decisão na Arena da Baixada, inevitavelmente evoca a memória da polêmica final da Copa Libertadores de 2005, um evento que permanece como uma cicatriz para a torcida rubro-negra e um marco na história dos clubes.
Aquele ano de 2005 marcou a consagração do São Paulo com o tricampeonato da Libertadores, mas para o Athletico, a jornada foi permeada por uma decisão administrativa que alterou drasticamente o cenário da disputa. A Conmebol, entidade máxima do futebol sul-americano, impôs uma exigência de capacidade mínima de 40 mil assentos para os estádios que sediariam as finais do torneio. O Furacão, determinado a jogar em sua casa, a Arena da Baixada, tentou viabilizar a utilização do local por meio da instalação de arquibancadas móveis.
A Gênese da Controvérsia em 2005
Apesar dos esforços do Athletico em adaptar sua praça esportiva, a Conmebol manteve uma postura inflexível. A entidade sul-americana não acatou a proposta de uso das estruturas temporárias, optando por transferir o jogo de ida da final para o Beira-Rio, em Porto Alegre. João Augusto Fleury da Rocha, então presidente do Furacão, recorda os bastidores daquela negociação, que visava alinhar o clube com o então presidente da Conmebol, Nicolás Leoz.
- Eu estava com um Tenente do Corpo de Bombeiros, que era o responsável pela vistoria dos estádios. O Corpo de Bombeiros iria dar um parecer favorável para que fosse expedido o alvará de utilização do espaço. Naquele momento chegou um dos nossos assessores com o telefone na mão. "Alguém quer falar com o senhor".
- "Aqui é da Conmebol, comunico que o seu pedido foi indeferido e o seu jogo foi marcado para Porto Alegre".
Essa comunicação unilateral selou o destino do primeiro jogo da final, longe do caldeirão que a Arena da Baixada poderia oferecer. A decisão da Conmebol foi um duro golpe para as aspirações do clube paranaense de disputar o título continental em seu próprio território.

A Perspectiva Tricolor e a Visão do Adversário
Do outro lado, o São Paulo, embasado no regulamento da Conmebol, exerceu forte pressão para que a partida inaugural não fosse realizada na Arena da Baixada. Marco Aurélio Cunha, superintendente do São Paulo em 2005, ofereceu uma perspectiva que, para muitos atleticanos, soou como um atestado de desdém ou, no mínimo, uma leitura fria da situação.
- O que faltou ao Athletico foi acreditar em si mesmo, que pudesse chegar à final. O Athletico decidiu empurrar com a barriga. Sabendo do regulamento, o São Paulo logicamente contestou jogar naquelas condições.
Ainda mais provocativa foi a referência de Marco Aurélio às arquibancadas tubulares como um "puxadinho", termo que ecoou como desqualificação dos esforços do Athletico. Ele comparou a situação a reformas domésticas, ignorando a dimensão de uma final de Libertadores.
- É claro que era um puxadinho, você não pode considerar que esse estádio maravilhoso que o Athletico tem pudesse ter aquelas arquibancadas móveis. Era um puxadinho, todo mundo faz puxadinho, em casa eu fiz um puxadinho também, é assim, a gente faz quando nos convém.
Apesar de o Santo André ter utilizado estruturas semelhantes na primeira fase daquela mesma edição, o critério da Conmebol não se manteve para a etapa decisiva, gerando questionamentos sobre a consistência das normas e a igualdade de tratamento.
Influência e Bastidores: O Peso da Tradição
Naquela época, o São Paulo já ostentava o bicampeonato da Libertadores e era amplamente reconhecido como um dos gigantes do futebol sul-americano. Essa posição de prestígio, para muitos observadores, pode ter exercido um peso considerável nas articulações fora das quatro linhas, favorecendo a argumentação paulista. Marco Aurélio Cunha, embora negue privilégios, admite a existência de um diferencial.
- Obviamente aqueles clubes mais tradicionais são vistos de maneira diferente, não quer dizer que sejam privilegiados. Talvez a Conmebol tenha um respeito maior por clubes mais ranqueados. Os argentinos tinham, até aquela época, muita influência, os paraguaios porque são locais. O São Paulo tinha sua tradição de bicampeão da Libertadores, o público que o São Paulo leva aos estádios, isso na hora sempre tem um peso.
- Tem um pouco dessas coisas e obviamente que pode mais chora menos.
Em meio ao imbróglio, a própria Conmebol chegou a sugerir ao Athletico que consultasse o rival Coritiba sobre a possibilidade de utilizar o Couto Pereira. Contudo, o clube coxa-branca agiu rapidamente, vetando qualquer chance de ceder seu estádio ao adversário, sob a alegação de que o local estaria em obras. Fleury da Rocha relembra o episódio:
- Foi sugerido pela Conmebol que nós solicitássemos a uma outra agremiação local (Coritiba), que tem o estádio grande, com capacidade declarada de dezenas de milhares de torcedores. Para nossa surpresa, no dia seguinte dessa conversa chegou à Conmebol uma carta de um dirigente desse clube dizendo que o estádio estava em obra e não tinha possibilidade de receber o jogo.
A Luta Rubro-Negra por Sua Casa
Em uma tentativa de aproximação e influência, a diretoria rubro-negra chegou a convidar Nicolás Leoz, presidente da Conmebol, para uma visita a Curitiba em março daquele ano. O dirigente foi agraciado com o título de cidadão honorário em uma cerimônia na Câmara Municipal e, na mesma noite, assistiu a uma partida entre Athletico e Libertad na Arena da Baixada, pela fase de grupos da Libertadores. Leoz também teve a oportunidade de conhecer o CT do Caju e as instalações do clube, em um esforço claro do Furacão para demonstrar sua estrutura e capacidade.
- Para que o Athletico fosse se inserir dentro desse relacionamento (com a Conmebol) seria necessário jogar um jogo para o qual nós não estávamos preparados e nem motivados. Então o máximo que nós pudemos fazer foi fazer essa homenagem ao Nicolás Leoz, que veio a Curitiba receber o título de cidadão honorário da cidade, até foi por iniciativa de um vereador atleticano, e que ele conhecesse melhor as nossas instalações.
A busca por apoio se estendeu a esferas políticas, com o Athletico procurando o governador do estado, Roberto Requião, e o presidente em exercício da CBF, Nabi Abi Chedid. João Augusto Fleury da Rocha realizou três viagens a Assunção para reuniões com dirigentes da Conmebol, em um esforço derradeiro para reverter a decisão. Contudo, todos os apelos foram em vão, e a decisão de transferir o jogo permaneceu inabalável.
A frustração e o sentimento de injustiça foram profundos na cúpula atleticana. João Augusto Fleury da Rocha expressou o impacto emocional daquela perda:
- Aquele tapete nos foi puxado, nos foi tirado a fórceps do coração, então a nossa sensação não poderia ter sido pior. Eu senti como todos os atleticanos sentiram naquele momento: uma profunda frustração.
No primeiro jogo da final, em 6 de julho de 2005, Athletico e São Paulo empataram em 1 a 1 no Beira-Rio. Dez dias depois, na grande decisão disputada no Morumbi, o Tricolor paulista goleou por 4 a 0, assegurando o título. Agora, as equipes se reencontram em um novo capítulo eliminatório, pela Copa do Brasil, com o jogo de ida marcado para esta quinta-feira, às 19h30, no Morumbis, e a volta em 6 de agosto, também às 19h30, na Arena da Baixada. Em caso de igualdade no placar agregado, a vaga será decidida em cobranças de pênaltis.
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