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Athletico no Ano 3000: A História Inédita da Camisa na Cápsula do Tempo do NYT

Por Redação FutCAP em 16/12/2025 04:14

Enquanto a maioria dos clubes brasileiros se debate com a árdua tarefa de construir um legado centenário, o Athletico Paranaense já se projeta para um futuro distante, muito além de qualquer cálculo temporal. Fundado em 1924, e tendo celebrado seu centenário há pouco, o Furacão ostenta o inusitado título de ser o primeiro time a ter sua existência garantida no ano 3000 ? um salto de 975 anos à frente da virada do próximo milênio. Essa façanha singular não é fruto de avanços tecnológicos ou de uma máquina do tempo, mas sim da confluência de um motorista, um jornalista e uma simples camisa, elementos que se entrelaçaram em uma narrativa digna dos anais da história do futebol.

A trama se desenrola a partir de um encontro fortuito em dezembro de 1999, na capital paranaense. De um lado, o curitibano Clóvis Gonçalves, um motorista com um amor incondicional pelo clube. Do outro, o jornalista norte-americano Simon Romero, enviado especial do prestigiado The New York Times. Juntos, e em apenas um dia, eles selaram o destino do então Atlético-PR, inserindo uma de suas camisas em uma cápsula do tempo idealizada pelo jornal, selada na virada do milênio e programada para ser revelada somente no ano 3000.

A Viagem Milenar do Furacão

A iniciativa, batizada de The Times Capsule, representou uma engenhosa estratégia do jornal nova-iorquino para marcar a transição de 1999 para 2000, preservando artefatos globais para as gerações futuras. O projeto selecionou cinco cidades estratégicas ao redor do mundo para a coleta de objetos representativos: Fountain, nos Estados Unidos; Bulawayo, no Zimbábue; Mantes-la Jolie, na França; Bharatpur, na Índia; e, surpreendentemente, Curitiba, no Brasil. Cada local oferecia uma perspectiva única sobre o final do século XX e as esperanças para o novo milênio.

Simon Romero foi o emissário encarregado de desbravar o Paraná em busca de itens que simbolizassem o Brasil. Duas décadas e meia depois, o jornalista, hoje correspondente internacional do New York Times no México, revisitou aquela experiência em uma entrevista, destacando o caráter singular da missão.

A pauta foi fascinante, foi uma ideia que veio de Nova Iorque, me ligaram e perguntaram qual era o lugar mais representativa do futuro do Brasil. Eu estava começando minha carreira no Times, e era um momento incrível, aprendendo português, aprendendo sobre o Brasil. Foi uma viagem fascinante para o Sul, que eu não conhecia.

Curitiba como Portal para o Futuro

Inicialmente, Curitiba não figurava nos planos de Romero. A capital de Tocantins, Palmas, uma cidade recém-fundada na época, era a primeira opção. No entanto, as dificuldades logísticas de acesso a Palmas levaram o jornalista a reconsiderar. Conversas com amigos brasileiros o direcionaram a Curitiba, uma cidade que se destacava por suas inovações urbanísticas e que ele ainda não havia explorado. Essa escolha se revelaria providencial para a história do Athletico.

Meu primeiro pensamento foi Palmas, que era uma capital muito nova naquela época. Mas era difícil de chegar lá. Falando com amigos brasileiros eu decidi que Curitiba era a melhor opção. Tinha experiências muito interessantes com urbanismo e eu nunca tinha visitado a cidade também, então foi uma excelente oportunidade.

A estadia de Romero na capital paranaense foi breve, uma verdadeira corrida contra o tempo para angariar sugestões. Armado com um bloco de notas, ele percorreu a cidade, formulando a mesma questão a diversos interlocutores: "o que você colocaria em uma cápsula do tempo que só será aberta no ano 3000?". A condução dessa jornada ficou a cargo de Clóvis Gonçalves, então motorista da Secretaria de Comunicação Social do governo do Paraná, a quem Romero carinhosamente se referia como "driver".

A busca por itens foi democrática e abrangente. Romero dialogou com personalidades como o então governador Jaime Lerner, que sugeriu um fragmento da calçada curitibana, e com cidadãos comuns que circulavam pelo centro, além de visitar uma comunidade carente. As propostas eram variadas e refletiam as preocupações e esperanças da época.

Tentei falar com uma grande variedade de pessoas, trabalhadores, gente comum na rua. Queria aprender algo sobre o lugar, sobre os símbolos mais importantes e sobre as prioridades das pessoas naquele momento. Não é fácil pensar o que que vai ser ser importante em mil anos.

Entre as sugestões, destacaram-se a preocupação com a escassez hídrica, que levou à inclusão de uma garrafa com água potável de Curitiba na cápsula, e a ideia de uma calça jeans, vista como um símbolo de vestuário democrático. Houve também a menção ao ipê amarelo, uma árvore de beleza singular. No entanto, o elemento que viria a eternizar o Athletico na história surgiu de forma inesperada, no desfecho da visita de Romero.

O Encontro Decisivo e a Camisa Imortal

Foi no momento da despedida, a caminho do aeroporto, que Clóvis Gonçalves, o "driver", foi interpelado por Romero sobre sua própria sugestão para a cápsula. Sem hesitação, o motorista propôs uma camisa do Athletico. O gesto, espontâneo e despretensioso, ecoou positivamente no jornalista, que prontamente acatou a ideia e a levou para Nova York.

E eu achei ótimo, naquela época não era um time que muita gente conhecia fora do Brasil, então eu adorei a sugestão. E como o futebol é tão importante no Brasil, na América Latina, e estava crescendo em popularidade nos Estados Unidos, eu incluí.

Clóvis, então com 25 anos, era um torcedor fervoroso do Athletico. Naquele período, o clube vivia um momento de efervescência, impulsionado pela recém-inaugurada Arena da Baixada, pioneira em seu modelo no Brasil, e pela expectativa de disputar sua primeira Copa Libertadores da América, após conquistar a Seletiva sobre o Cruzeiro. Essa euforia rubro-negra, segundo o próprio Clóvis, foi o combustível para sua sugestão.

Estava na moda aqui em Curitiba. Depois que o Petraglia assumiu, o Athletico virou o time da moda. A torcida estava em êxtase, né? Primeira Libertadores, estádio top. O atleticano estava mais apaixonado, então surgiu essa ideia.

Com os itens provenientes das cinco cidades globais, a cápsula do tempo foi lacrada e inicialmente exibida em frente ao Museu Americano de História Natural, em Manhattan. Sua estrutura hexagonal, concebida pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, foi projetada para permanecer acima do solo. Em 2018, a peça foi removida do local de exposição e hoje se encontra guardada, inacessível ao público, aguardando pacientemente sua abertura no longínquo ano 3000.

Legado e Marketing na Eternidade Rubro-Negra

A notícia da inclusão da camisa do Athletico na cápsula do tempo reverberou em Curitiba, e o clube não tardou em capitalizar sobre a visibilidade inédita. O Furacão lançou a campanha "Atlético 3000", cujo logotipo adornou as mangas da camisa do time, acompanhado do slogan impactante: "Nunca um clube foi tão longe". A estratégia de marketing transformou um evento fortuito em uma poderosa ferramenta de promoção e identidade.

Clóvis Gonçalves, por sua vez, experimentou um período de celebridade no universo atleticano. Recebeu uma cadeira de sócio, homenagens do então presidente Mario Celso Petraglia e votos de louvor e aplausos na Câmara Municipal de Curitiba. Sua contribuição, embora simples, garantiu-lhe um lugar de destaque na história do clube.

Eu faço parte da história do clube, o fato aconteceu porque eu dei a ideia. Chutei pra cima e a bola entrou no gol, algo bem espontâneo, sem pensar. Levei o Athletico longe. Nenhum time chegou até lá, mas o Athletico chegou e eu fiz parte disso.

Ecos do Passado no Presente e o Olhar para 2124

Vinte e cinco anos após esse episódio curioso, o Athletico revisitou a história, relançando a camisa de 1999 e criando sua própria cápsula do tempo, com abertura prevista para 2124, ano em que o clube completará dois séculos de existência. Uma homenagem que reafirma a importância desse marco na memória rubro-negra.

Atualmente, Clóvis Gonçalves continua sua jornada atrás do volante, agora como motorista de aplicativo, e já não frequenta os jogos do Athletico com a mesma assiduidade de outrora. No entanto, em sua residência, ele preserva com carinho imagens, recortes de jornais e fotografias que testemunham o momento em que, por um gesto simples, colocou o Furacão na eternidade.

Hoje os times se vangloriam, pô sou tetra da Libertadores, sou tri da Série B, esse tipo de coisa, mas quem vai estar lá na frente no ano 3000 vai ser o Atlético.

A história da camisa do Athletico na cápsula do tempo do The New York Times transcende o mero anedotário esportivo. Ela se consolida como um testemunho da capacidade do futebol de gerar narrativas improváveis, de conectar pessoas e de projetar um legado que desafia as fronteiras do presente. O Furacão, de fato, não apenas figurará nos registros do próximo milênio, mas já está lá, um pioneiro em uma jornada que poucos ousariam imaginar.

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